Cervejaria Wäls vai incluir tradicional
ingrediente da cachaça no processo de fabricação da bebida; primeiro
lote terá apenas 2 mil litros à venda.
Cerceira bebida mais popular do mundo - atrás apenas da água e do chá -, a
cerveja vai ganhar uma cara tradicionalmente brasileira. Neste sábado, a
cervejaria mineira Wäls, comandada pelos irmãos José Felipe Carneiro,
25, e Tiago Carneiro, 29, vai dar um toque tupiniquim à popular fórmula
de água, malte de cevada, lúpulo e levedura, e acrescentar
cana-de-açúcar na produção da “gelada”. É a primeira tentativa no mundo
de inserir a matéria-prima da cachaça no processo de fermentação da
cerveja.
O primeiro lote da produção da cerveja de cana, que chegará ao mercado
com o nome de Saison de Caipira, estará sob a responsabilidade de uma
das maiores autoridades na bebida do mundo. Garrett Oliver, da
norte-americana Brooklyn Brewery, desembarca em Belo Horizonte no sábado
para dar o pontapé inicial na produção da "cerveja mais brasileira de
todas".
Mas o lote inicial será apreciado por poucos. Segundo José Felipe
Carneiro, responsável pelo departamento de produção da Wäls, serão
fabricados apenas 2 mil litros da fina cerveja de cana. “Aqui, nós não
fazemos cerveja. Fazemos obra de arte”, diz José Felipe.
A projeção é de que a garrafa de 375 ml chegue ao
consumidor final em dezembro, com o preço de R$ 18. A Saison de Caipira
estará à venda nos estados de Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro,
Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Paraná, Distrito Federal e na cidade
de Goiânia.
Mas, para quem perder não der nem um gole nos 2 mil
litros iniciais, a Wäls tem um alento. Passado o primeiro lote, a
cervejaria mineira pretende manter a Saison de Caipira no portfólio, com
uma produção de até 20 mil litros por ano. A Wäls estuda, inclusive, a
possibilidade de exportar a cerveja de cana.
No gosto "gringo"
Para o sommelier de cervejas André Cancegliero,
organizador do Beer Experience, a Saison de Caipira tende a cair no
gosto, principalmente, dos norte-americanos. "Eles gostam dessas adições
bem diferentes."
No mercado brasileiro, o especialista enxerga uma
oportunidade para a cerveja de cana, mas diz que é "muito difícil
acertar a mão" no primeiro lote de produção. "Será uma cerveja bem
forte, bem doce", acredita.
"É uma cerveja de experimentação. Ninguém vai sentar no bar para tomar uma caixa dela", completa.
Produção à mineira
Para dar à cerveja o toque mais brasileiro da cachaça, a
Wäls fechou uma parceria com o grupo mineiro Vale Verde, responsável
pela produção de uma das cachaças mais tradicionais do país. Eles
fornecerão à cervejaria um lote de cana-de-açúcar especial, com um dos
melhores “brix” do mercado. O “brix” é um índice que mede o teor de
sacarose da cana, que, no caso da Vale Verde, chega a 23%.
É este açúcar da cana da Vale Verde que será utilizado no
processo de fermentação do caldo da Saison de Caipira. Para completar o
caráter nobre da cerveja, Garrett Oliver promete trazer dos Estados
Unidos um fermento especial utilizado nas bebidas da Brooklyn para dar o
seu toque especial à cerveja de cana.
Segundo José Felipe, a Wäls investiu R$ 80 mil na
produção do primeiro lote da bebida. Até o processo de moagem da cana
será diferenciado. A cervejaria comprou um moedor de cana especial que
será utilizado somente para a fabricação da cerveja. No primeiro lote, a
Vale Verde vai fornecer 1 tonelada de cana para a Wäls. “A ideia é que
essa cana se transforme em aproximadamente 400 litros de caldo.”
Esse caldo nobre será utilizado no processo de
fermentação da cerveja. José Felipe explica que a bebida será no estilo
Saison, típico do interior da Bélgica, que dá uma “certa liberdade” na
manipulação dos ingredientes. As cervejas do tipo Saison tem aromas
frutados, leve acidez e alta carbonatação.
O resultado da primeira cerveja de cana, claro, ainda é
uma incógnita. Mas a expectativa é grande. “Esperamos um aroma muito
frutado”, diz José Felipe. Mas, apesar do toque doce do caldo-de-cana, o
teor alcoólico da Saison de Caipira deverá ficar entre 6% e 8%, acima
dos 4% da cerveja tradicional.
Como, nas palavras de José Felipe, os lotes de cervejas
finas da Wäls “evaporam em uma semana”, vale a recomendação: aprecie com
moderação.
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